quarta-feira, 9 de julho de 2014

Segurança alimentar: A base de uma vida saudável


Todos os dias na comunidade Boa Vista, localizada no município de Mata Grande-Al, via-se de longe que nenhum empecilho iria tirar o foco de Mareval Fagundes de Souza, 55, que com muito esforço e dedicação conseguiu transformar a sua propriedade vazia e sem vida em um quintal produtivo. Justo em dias como esses, de chuva, acorda não toma café, vai logo olhar para os animais, em seguida dá de comer aos bois, e agora sim tomar café. Depois de tudo organizado é hora de cuidar da terra, sua prioridade é que esteja tudo preparado para receber a chuva do inverno.
            Ele já está na comunidade há mais de 28 anos junto a sua esposa Dona Maria de socorro de Souza, 63, e o sogro José de Souza Silva, 91. Na sua infância o pai não acreditava que a escola pudesse dar um futuro a seus filhos, confiava na agricultura para gerar renda e assim estudou até a 4ª série, “o tempo que eu estava na escola iam lá e avisavam de outro serviço que tinha que fazer na roça, portanto o estudo ficou pouco”, relembra Mareval.O agricultor hoje é só alegria e sossego com a nova tecnologia que não completou 1 ano, mas com a chuva começou a plantar e aguando aos pouquinhos a lavoura, foi resistindo e vem comendo a dias dessa roça, ainda não houve excedente para comercializar, porém tem a expectativa de vender o que está plantando. Mareval nas reuniões da associação vai adquirindo conhecimento com os demais e aprendeu que “o milho é uma planta aumentadora, ali perto da cisterna era um terreno duro, mas a gente fica pegando o estrumo do gado e colocando para afofar a terra para aumentar as coisas, porque só na piçarra não tinha como crescer, então a gente forrou os cantos duros e ela aumentou, a planta foi crescendo de pressa, a terra era ruim, difícil”, descreve.Antes de receber a cisterna de enxurrada “passava dificuldade não tinha uma verdura para comer, com a seca o sofrimento era horrível perdia até o sono, eu pegava dois bois saia 1 hora da madrugada, quando chegava lá no tanque perto da placa, já estava cheio de gente, os vizinhos mais pertos chegando primeiro, ai tinha umas pessoas melhorzinha que me cedia para eu encher dois tambores de água, chegando em casa de volta 10 horas do dia sem tomar café, era triste a situação, passava necessidade de fome eu e os bois, mais depois dessa cisterna a coisa ficou ouro, porque eu durmo em em paz, quando eu posso comprar um tanque de água comprava, quando não pedia aos amigos e eles traziam, então, já começou o sossego, e deixava guardada a água, está melhor do que no início onde tinha um cavalo que passava fome e daí peguei uma muda de capim e fui plantando, com 30 dias já fui tirando para dar ao cavalo, parece que Deus estava vendo lá de cima, por que eu tirava o capim crescia mais, com pouca água, ai sustentei meu cavalo desse jeito”, recorda Mareval.

Sempre viveu da agricultura e acha a terra do município um solo bom para plantar, ele se dá com todo mundo da comunidade, sempre procura ajudar todos a sua volta. Como sócio da associação comunitária, não gosta nem de se atrasar para as reuniões, acreditando que a união é a chave para o sucesso de uma comunidade. “Quando eles precisam eu estou junto, e até eu sirvo mais do que chamo eles para me servir, que cada um é assim, quem gosta de servir quando vê o outro no aperto, se eu puder vou sem ninguém me convidar, as vezes quando tem uma ovelha para parir, então eu vou lá, eu dou uma ajuda boa, para salvar a vida de um bichinho”, afirma seu Mareval.
            Na comunidade Boa Vista vivem aproximadamente 150 famílias e cerca de 30 foram beneficiadas com a segunda água, pelo Projeto uma terra, duas águas (P1+2), executado pela Articulação do Semiárido Brasileiro (ASA), através do Centro de Desenvolvimento Comunitário de Maravilha (CDECMA).
            As sementes ele adquiriu através do sindicato de Mata Grande, que funciona como um banco de semente, “eu gosto de pegar as sementes, me manter e devolver a mesma lavoura para eu ter um caminho aberto quando for buscar, eu plantei cerca de 15 quilos de milho e espero colher 30 sacos, pois o tempo está muito bom, está sadio, chove e faz quentura, porque quando o inverno é frio a lavoura não aumenta muito não, mais quando é assim aberto, chove, abre, ai é saúde para ela e graças a Deus até o inseto não olhou para nossas coisas mais, por que nós já sofremos 4 anos de seca sem ver nada”, repassa Mareval mudando a visão que tinha em relação ao semiárido, vivenciando agora os benefícios da agricultura.
            Na mesma propriedade havia uma casa de farinha, lá ainda existe o motor, mais a produção terminou com a seca que durou 4 anos e acabou com a semente para renovar o plantio, não é fácil, renovar a plantação, Dona Maria do Socorro queria desmontar a casa, mas o esposo acredita que tudo pode voltar a ser como antes, “quem sabe Deus não melhora tudo e voltamos a fazer a farinha”. 
            A farinha da roça rende muito mais que o quilo comprado da feira, se for a farinha da roça o saco custa 165,00 reais, se for da feira o quilo custa 4,00 reais, sendo o de feijão 100,00 reais e o de milho 30,00 reais, seu Mareval considera mais lucrativo plantar mandioca.  Ele plantou 15 quilos de feijão e pretende colher 10 sacos lá para setembro e de milho plantou 15 quilos e pretende colher 30 sacos lá para outubro, pois o milho rende mais na safra.
            As expectativas dele é fazer mais plantio, “só penso em crescer, eu já parei de crescer no tamanho, mais no trabalho eu só penso em aumentar, em quanto Deus me dê a saúde eu só penso em desenvolver. Quero plantar e colher uma comida saudável por que aquela que vem de fora chega com muita droga, é uma comida que não é sadia. Hoje se compra um tomate na feira vem bem maduro e é pedrado, aquilo deve ser a droga que é muita e essa daqui ninguém usa agrotóxico, isso é uma coisa gostosa. Um exemplo é esse meu sogro que sempre viveu da agricultura, apesar de ter uma bolsa cheia de exames não tem nenhum colesterol”, exclama o agricultor que apesar da idade, ainda tem o sonho de retomar a plantação de mandioca.
            No quintal produtivo de seu Mareval, em pouco espaço tem muita coisa, cria galinhas para consumo, 2 bois para o trabalho, 2 cavalos e planta: feijão de corda, maxixe, mamão, capim, pinheiro, milho, andu, capim santo, seriguela, bananeira, abacaxi, coentro, pimentão, cebolinha, roseira, fava, castanhola, acerola, uva, goiaba, limão, feijão, laranjeira, mastruz, alho, hortelã, erva cidreira e plantas medicinais.
            Dona Maria do Socorro tem a pretensão de plantar tomate para completar a sua horta e seu Mareval deseja criar ovelha, não pode comprar por que está caro, e fala do sentimento de saudade de cria-las, espera que, quando estiver comercializando o excedente do seu quintal produtivo, consiga comprar as ovelhas.



Keila Gomes
Comunicadora Popular – Coppabacs/ASA Alagoas.

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